Chumbo trocado

Por: Diego Soares

Você certamente conhece um urbanóide; odeia mato, tem medo de todo tipo de bicho, só viu galinha congelada e não entende porque trocar um ar com tv e frigobar por uma barraca, chão duro e fogueira (delícia!). Sem querer ser tendencioso, e entendendo que as pessoas são lindamente diferentes, eu os respeito em sua visão pela vida, mas não posso negar que nesse mundo tem gente muito chata! Um porre! Pé-no-saco...de farinha! Pronto! Falei!

Lá estamos fazendo uma trilha linda! Flores raras, abelhas trabalhando alucinadamente, pássaros cantando, pedras contando histórias e ela, a chata, solta: "Já pensou se calçassem tudo isso? Que clean!" Ela reclama dos insetos, voadores ou não. Excomunga as cobras. O vento resseca a pele, a água destrói o cabelo, a terra suja os pés. "Que cheiro é esse? Cocô de bicho?!" Ela, ela que é um cocô! Ela tropeça numa pedra e por dentro admito, eu dou risada, muita! Fazer trilha de salto é para Divas! E ela só era uma chata não de galochas, de salto!

Chegando na cachoeira, aquele mundão de água, a força da natureza, a purificação..."Gelada demais, suja demais!" Suja era aquela mente doentia. Na birosquinha paramos para comer. Hum! Tapioca, chambarí, milho cozido! "Tem fermento nisso? (Tapioca) Nem se eu passasse o resto da minha vida numa esteira queimaria essa comida gordurosa! Horror! (Na frente da dona Maria do chambarí, que grosseria, que horror!)" Tudo era anti-higiênico, calórico, forte, sem sal ou quente demais pra ela. De repente ela tira da bolsa um potinho e acredite se quiser, a chata tinha lenços umedecidos, tomou um banho de gata, ficou cheirosa, mas continuou chata. A noite, fogueira, violão. Fora da barraca era frio, dentro muito quente. Celular não pega e ela pede pro cantor todas aquelas músicas que ninguém conhece. Como assim Bjork enplugged? Acordou a noite toda, bicho fora e dentro da barraca. "Ouvi um leão! Eu sei! Eu sei!" Quem me dera que a doida estivesse mesmo na Á-FRI-CA! Pra piorar a metida escreve crônicas sobre vida urbana, nesta semana apreciei o seguinte trecho, de uma das suas, com maior interesse:
"Você provavelmente conhece um ecochato, bicho-grilo, homem-do-mato..."